domingo, 29 de novembro de 2009

Depois da Curva

Certa vez durante uma aula meu professor disse algo que eu nunca ouvi niguem dizer antes: a vida não passa rápido. Dizia ele que o que passa rápido são as pessoas por ela. Não sei bem se ele está certo ou errado, aliás, acho que ninguem pode responder isso, mas seu ângulo de visão é interessante.

Há 3 semanas, durante o plantao de quinta-feira (meu plantao semanal), eu atendi um telefonema na sala de plantão. Ainda eram 20:00h e o turno estava tranquilo, foi quando uma enfermeira desesperada no outro lado da linha berra: corram aqui, tem um paciente banhado em sangue. Não foi exagero, ha alguns metros antes da enfermaria dava pra sentir o forte cheiro de sangue fresco vindo da cama ensopada do paciente. Era um pós-operatório de cirurgia vascular e o coitado tinha tido um pico hipertensivo e perdido a prótese que colocaram em sua artéria femoral (arteria que passa na coxa e leva o sangue para a perna). Foi uma catástrofe, o sangue jorrava como se houvesse um grande furo numa mangueira de jardim. Eu só me lembro de ter corrido - enquanto não chegava algum médico - e pegado o que cabia de gase nas minhas mãos e comprimido a perna do infeliz. Sentia o sangue quente pulsando nas minhas mãos (com luva, lógico), foi quando ele olhou pra mim com um olhar melancólico e distante, olhos fundos, rosto pálido e suado, susurrava baixinho virando a cabeça pro teto: espírito santo me leva, espírito santo me leva... Vi então que tudo foi perdendo o sentido pra aquele cara e que ele já havia desistido. Presenciei a vida ir saindo dos olhos dele, transformando-se em uma matéria sem vida na minha frente. Já tinha visto algumas pessoas morrerem antes, mas você nunca esquece quando vê a alma dentro dos olhos da pessoa ir embora, sabe-se lá para onde...

Apesar de não saber se a vida passa rápido, sei que ela tem que ser vivida como se passasse... Pois ela passa... passa...

Falando em morte, ainda estou meio de luto pela minha orientadora, Prof Tania TAno - Pesquisadora CNPQ FARMACOLOGIA UERJ, Faleceu na sexta retrasada em um acidente de carro na BR 101.

Eu tinha uma reunião com ela nesta ultima quarta passada.. Não tive.. Deus sabe por que...

Quem sabe eu a encontre depois da curva..

(ps. não gosto de acentuaçao grafica)
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Termino com uma música do maior compositor brasileiro, Humberto Gessiner..

Depois da CUrva (Humberto Gessinger / Duca Leindecker - pouca vogal 2009)


Amanhã, talvez
Esse vendaval faça algum sentido
Dá pra se dizer
Qualquer coisa sobre todo mundo

Por hoje é só
Vou deixar passar a ventania
Talvez amanhã
Vento, vela e velocidade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Amanhã talvez
Esse temporal saia do caminho
Dá pra escrever
O papel aceita toda qualquer coisa

Por hoje é só
Vou deixar passar a tempestade
Talvez amanhã
Água pura e toda verdade

Mar azul
Céu azul sem nuvens
Logo ali... depois da curva
Ali, logo ali, ali... depois da curva

Ali, logo ali, ali... depois da curva
Ali, logo ali
Eu vi, eu vim, venci a curva

3 comentários:

  1. Meu amigo, tenho que admitir: fiquei impressionado!
    Deus te abençoe nesta sua profissão!
    Li para minhas alunas o seu texto, elas também souberam valorizar o seu trabalho.
    Abração

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. DEUS TE ABENÇOE NETTO!!
    GRANDE ABRAÇO!

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